Tentações de natal

O Natal, encarado por toda a gente como uma época propícia à reunião da família, à paz, à fraternidade e à solidariedade entre os homens, acaba por ter o efeito de aguçar todos os nossos pecados capitais, que consta serem sete. Vejamos:



Vaidade
“Brilhe mais do que a sua árvore!”
“Seja a rainha da festa e impressione os seus convidados!”
“Ofereça a si própria o luxo de uma toilette requintada para a ceia natalícia!”
“Um toque de mistério, romantismo e sensualidade no seu penteado e maquilhagem de Natal!”



Inveja
“Dá Deus nozes a quem não tem dentes, sabes o que é que o João comprou para dar aos putos?”
“Se eu tivesse o dinheiro que aquele gajo tem, sempre dava uma festa melhor!”
“Nem por favor eu ficava com aquele casaco, que mau gosto! E a parva toda contente, abraçada a ele!”
“Ai que horror, o Natal é só ostentação e hipocrisia!”



Ira
A irritação disfarçada de quem recebeu uma prenda de que não gosta ou que não serve para absolutamente nada, mas tem que agradecer com simpatia… e então: “AAHH! Muito gira, adoro!” ou então: “Olha que sorte, estava mesmo a precisar … obrigado!”



Preguiça
Ficamos com preguiça só de ter que fazer a lista de presentes, só de os ir escolher, só de olhar para ela e pensar em tudo o que falta, só de programar tudo o que é preciso para a mesa de Natal, só de pensar em sair de casa para nos metermos em filas caóticas de trânsito e em centros comerciais a abarrotar de gente, só de esconder as prendas todas e tentar não as confundir.



Avareza
No meio desta crise toda, queremos fazer boa figura sem gastar muito dinheiro. A ideia é não dar pérolas a porcos. Damos prendas aos nossos entes queridos e a quem devemos favores, mas só nos desgraçamos nas catedrais do consumo para proveito próprio. Os apelos à solidariedade caem em saco roto e já agora até pomos logo a andar os presentes que já recebemos e que não têm qualquer serventia, de preferência trocando o destinatário, para não haver melindres. Com jeitinho, livramo-nos de montes de piroseiras, conseguimos poupar montes de dinheiro, e ainda fazemos um figurão! Matamos 3 coelhos de uma vez!



Gula
Não conheço outra altura do ano em que se enfardem tantos bolos e petiscos como nesta! Ainda nem se fez a digestão da consoada e já começou a maratona para o almoço de Natal… E o mesmo se passa no fim do ano! Numa semana, são 4 festins pantagruélicos, 4 orgias alimentares! Por descargo de consciência, alguns ainda vão dizendo (com a boca cheia)... “Ah e tal, depois faço dieta!”



Luxúria
A orgia não é só alimentar!!! Os prazeres da época não se limitam a encher os olhos e a barriga e a esvaziar a bolsa! As pessoas estão bonitas e alegres, uns copitos também ajudam, o amor está no ar e transforma-se em paixão, nada como ceder às tentações da carne! Há os prazeres da mesa e os prazeres da carne! E não estou a falar do peru!



Daqui se conclui que o Natal é a deliciosa união de todos os pecados, e portanto aproveitem e cedam às tentações, que o Natal é só uma vez por ano!